quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Não Desistir

Um passo de cada vez, é o que dizem. Nunca tive a oportunidade de concordar tanto com essa frase. 18. 36. 35. 33. Essas foram as quilometragens diárias aproximadas que eu caminhei do dia 24 a 27 de Setembro. De longe, a coisa mais difícil que já fiz na vida.

Sai de casa com um objetivo, um sonho: chegar a catedral de Santiago de Compostela fazendo uma parte do caminho português. Quem já havia feito a caminhada me disse que não era necessário preparo físico, “o caminho te leva”.

No primeiro dia saímos de casa muito mais tarde do que queríamos e não foi possível alcançar o objetivo do dia, a partir daí, naquela noite, já sabíamos que os próximos dias ficariam cada vez mais puxados. Afinal de contas, eram 18km que deixamos de andar naquele dia e que seria dividido entre os três próximos. E infelizmente não é possível dizer “ah, 6km a mais em cada dia não é tanta coisa”, cada metro a mais já é demais. Seis quilômetros são aproximadamente uma hora e meia a mais caminhando. Sendo que nem sabíamos se iríamos enfrentar a subida de uma montanha ou a alegria de um caminho com altitude constante.



Foi no final do segundo dia que pensei pela primeira vez em desistir. Meus pés não agüentavam, os joelhos não suportavam mais o peso do corpo e da mochila, e minha mente estava fraca. Aquele dia surgiu as primeiras bolhas nos pés das quais eu teria que cuidar e tentar não pensar na dor. Quando a cidade que era nosso objetivo aquele dia não parecia que ia aparecer, eu sentei, respirei fundo. Chorei. Chegamos ao albergue, deitei na cama e achei que não conseguiria mais andar no dia seguinte, a não ser se fosse com destino a uma estação de trem.

No terceiro dia acordei com um pouco menos de dor do que havia ido dormir. Eu não queria desistir, eu não podia. Não podia dizer ao meu amigo, que aceitou fazer o caminho comigo, que eu não tinha mais forças. Eu tinha que ser mais forte que isso. Nesse dia paramos na farmácia e compramos o que já deveríamos possuir desde o início. O terceiro dia passou mais facilmente, minha mente já estava mais determinada e mais forte. Claro, chorei, mas a vontade de desistir já não era grande. Faltava somente mais um dia, e fui dormir sabendo que a catedral estava a 33km de nós.



No quarto dia, chegamos.

No meio de tanta dor, esqueci de mencionar quantas coisas bonitas eu vi. Por quantas vilas pequenininhas passamos com o chão de pedra e as casinhas feitas de pedra também. Por quantos vinhedos passamos, com o cheiro da uva atingindo nosso olfato, e, como ninguém é de pedra, sentindo o gosto espetacular daquelas uvas fresquinhas do pé. Passamos por cidades um pouco maiores com centros históricos incríveis. Sim, subimos montanhas, mas por causa disso conseguimos ficar mais próximos da natureza e ver lugares com belezas únicas. Esqueci de mencionar que o caminho era repleto por riachos super gracinhas que acalmavam a dor que eu sentia no pé ao colocar ele naquela água gelada. Que conhecemos um povo espanhol muito alegre e simpático. Antes de sair de casa eu li “não abaixe a cabeça durante o caminho”, e foi o que fiz, e por causa disso tive o prazer de visualizar e capturar cada detalhe dos lugares incríveis que passávamos.

E se eu saí de casa com um sonho, só tenho a dizer que voltei pra ela com muitos outros. Com muita vontade de lutar e realizá-los. E, com satisfação, sabendo: eu posso.



O caminho faz coisas com você... Ele te transforma, te faz perceber o quanto você pode agüentar, mostra que não é fácil ganhar uma batalha e muito menos uma guerra. Acima de tudo, te ensina o que é essencial na vida.

Um comentário:

  1. Caramba, fiquei impressionada!!!!!
    Parabéns pela coragem de ir e mais ainda pela determinação em continuar!

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