segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Esperar pela minha colega de quarto

Ao me inscrever para a residência universitária, precisei preencher quadradinhos com números que indicavam a minha preferência por um quarto individual ou duplo. Não pensei muito e assinalei os duplos como de maior preferência.

Motivo número 1: Eram consideravelmente mais baratos que os individuais;
Motivo número 2: Vou ser a eterna pré-adolescente amante dos filmes americanos que falam da história de alguém no período universitário, e que muitas vezes tem a sorte de ter o melhor colega de quarto do universo;
Motivo número 3: Também sempre vou ser a eterna amante de Friends, e não que eu não ache a parceria entre a Monica e a Rachel demais, mas eu sempre imaginei ter “um Joey” na minha vida, mas no sentido feminino da coisa: uma colega de quarto que sempre me apoiasse e fosse extremamente parceira, topasse tudo, e ainda fizesse e falasse bizarrices comigo. Enfim, que se tornasse mais uma melhor amiga irmã.

Então chegou o esperado sábado de entrar no quarto na residência. Cheguei, abri a porta, e vi as duas camas na salinha que era o “nosso quarto”. Uma do lado direito e outra do lado esquerdo da janela, cada lado possuía um armário, uma escrivaninha, prateleiras e uma mesinha ao lado da cama. Nenhuma das camas tinha lençol, mas no armário esquerdo encontrei um par de tênis, um pijama e uma muda de roupa. Ainda no lado esquerdo, a escrivaninha tinha uma cópia do livro “O Código Da Vinci”, um par de lentes de contato e mais umas cópias do que parecia ser algum livro da aula. Considerando esses pertences, fui logo colocando minhas coisas na metade direita do quarto. Fui desfazendo a mala, separando as roupas para guardar como eu gosto no armário, pegando os mimos que trouxe de casa e colocando na mesinha ao lado da cama. Colocando nas prateleiras da minha escrivaninha os três livros que trouxe do Brasil e outras coisinhas minhas.

No banheiro encontrei uma escova de dente, que deixei no mesmo lugar, e adicionei ao lugar um potinho com a minha escova e pasta, e um sabonete líquido. Na prateleira do box, encontrei um dois em um (shampoo+condicionador), que botei um pouquinho mais pro lado, e coloquei o que era meu lá.

Aquela primeira tarde passei no quarto, esperando ansiosamente a minha colega, como as aulas começavam em dois dias, ela provavelmente chegaria naquele final de semana. Às 18h ela ainda não tinha aparecido, às 22h também não, e quando deu meia noite achei melhor ir dormir e quem sabe ela apareceria no próximo dia.

Acordei às 9h e umas amigas brasileiras que também estavam na residência me chamaram para as compras, fomos a um centro comercial ali perto, compramos o que precisávamos para limpar a casa e nos alimentar e cerca de duas ou três horas depois eu já estava em casa. Minha colega ainda não havia chego. Almocei. Ela não chegou. Fiquei a tarde inteira fazendo qualquer coisa. Ela não chegou. Dormi, fui ao primeiro dia de aula, voltei para o quarto. Ela não chegou. Naquela segunda-feira à noite decidi sair para um dos eventos de boas-vindas, pensei em escrever uma carta e por em cima da escrivaninha dela, acabei não fazendo isso, mas quando voltei da festa, ela ainda não estava lá. E depois de seis meses vivendo na residência universitária, ela ainda não chegou.

No último final de semana de Junho, que era o mês oficial de deixar a residência, eu viajei. Quando voltei, não havia mais tênis, ou pijama, ou código Da Vinci. Só uma grande inundação de: nunca conheci a dona dessas coisas, a minha ex-futura melhor amiga irmã. Não sei se fiquei triste de não ter vivido a experiência de ter uma ótima colega de quarto e que topasse todas comigo e também chateada de nunca a ter conhecido, imaginando que ela poderia ser uma pessoa incrível, ou se fiquei aliviada de não tido uma colega de quarto que poderia ser a maior chata... Sei que não foi dessa vez que conheci o meu Joey, e acabei sendo Monica antes da Rachel aparecer na vida dela (desamparada sem uma colega de quarto)... Mas também sei que foi ótimo ter pela primeira vez um quarto fora de casa, para eu cuidar e limpar, e estando sozinha eu podia fazer o que eu quisesse a qualquer hora. Ou seja, a primeira experiência de viver fora de casa foi incrível, mas isso já é outra conversa...

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

A volta dos que não foram

Não entendo como é possível ser tão emocionalmente fiel a algo, e na prática não ser. Num post como esse eu poderia começar o primeiro parágrafo cheio de palavras pedindo desculpas, ou até mesmo, esquecer esse blog, criar outro e começar do zero como se esse blog nunca tivesse existido. Não. Nem primeira opção, nem segunda.

Quando criei esse blog queria compartilhar com as pessoas minhas experiências durante o intercâmbio, principalmente as viagens. E sabem o que aconteceu? Eu viajei, não tanto quanto eu ainda quero, mas muito mais do que eu imaginei. E acontece que, sentada no banco de algum parque, independente da cidade em que eu me encontrava, eu imaginava como seria o post quando eu chegasse ao lugar que agora eu chamo de casa. Mas esse pensamento começava a ficar atrás dos outros a partir do momento que eu abria meu mapa, levantava do banco e ia a caminho de uma coisa nova para ver.

Depois de alguns dias, sentada em frente ao computador, esse pensamento voltava a ser o centro de minhas atenções, mas na hora de transcrever qualquer palavra pro “papel”, passou a não me ter significado algum dar explicações e dicas sobre a minha viagem que pra mim tinha sido tão especial e indescritível.

Eu percebi que eu não queria ficar dando dicas sobre as viagens. Não preciso dizer o que eu aprendi depois delas. Talvez, a verdade é que eu não quero fazer isso. Porque escrever sobre isso é aceitar que o meu tempo fora do Brasil está cada vez mais curto, escrever sobre a viagem... seria como virar a página. E, honestamente, eu ainda não estou pronta para isso. Quero essas lembranças bem vivas em mim até o momento que a realidade brasileira for a minha realidade novamente. E sei que quando isso acontecer, e eu estiver pronta pra falar das viagens, o blog vai estar aqui para passar a minha mensagem. Enquanto isso, quero falar sobre qualquer acontecimento do meu dia-a-dia daqui, escrever o que eu descobri depois da conversa com um amigo, depois da festa de ontem a noite, ou depois da aula que eu tive durante a manhã. Quero que as pessoas possam me conhecer melhor através do que eu escrever. Quero finalmente escrever tudo aquilo que eu sempre penso em escrever, mas perco a coragem depois de lembrar que não apareci aqui por tanto tempo.

Simplesmente não quero apagar essa chama que me implora por voltar a postar. Quando fiz este blog, imaginava estar pronta para assumir o compromisso com ele, a vontade sempre esteve dentro de mim. O problema é que quanto mais você ingressa na vida adulta mais você vê obstáculos para fazer as coisas que você gosta: trabalhar oito horas por dia, estar na faculdade, o estágio que você começou a fazer, e depois de eu conseguir administrar tudo isso e finalmente abrir esse blog, chegou a hora do intercâmbio. Eu pensei que ia ter tempo de sobra pra poder escrever e divagar sobre tudo o que eu tenho feito. Aconteceu que não tive tempo de sobra, ou melhor, eu não soube administrar o tempo logo de primeira pra ter esse tempo gostoso de estar na frente do computador escrevendo. Eu só continuava a ler os blogs que eu admiro e chegava a hora de fazer outra coisa. Quando essa realidade bateu na minha consciência e disse um “oi”, eu me senti estúpida. Eu, que sempre respondia às pessoas que me diziam não ter tempo algo do tipo “vocês precisam aprender a usar melhor o tempo de vocês”, percebi que eu estava dando a “desculpa” de não ter tempo e por isso que estava fazendo só a coisa X, em vez de fazer a X e Y. Afinal de contas se eu soubesse usar melhor meu tempo, não teria ficado tão afastada da página de publicações do blogspot ao mesmo tempo que esse blog é tão presente nos meus pensamentos.

Depois de meses de saudades, aqui estou. De volta, pra valer.