segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Maldito captcha!

Aqui em Braga, pelo menos para os intercambistas, dia de sair é durante a semana. Desde que cheguei aqui não consigo listar mais do que cinco sextas-feiras ou sábados que eu saí para “balada”. Nesses dias, ou descanso, ou estou em alguma viagem, ou faço um programa bem de leve com as amigas ou com o namorado. Claro que acontece de em alguma sexta ou em algum sábado eu não fazer nada disso e simplesmente ficar em casa fazendo o que eu quiser. E duas semanas atrás, esse era o destino da minha sexta-feira...

Estávamos passando pela entrada do outono (acontecimento que agora foi derrubado por duas semanas de verão no meio do outono português). E tudo corria como deveria ser... folhas caindo no chão, casacos sendo retirados da mala (cheguei até a sair de sobretudo em uma noite durante a semana), cachecóis voltando a ter uso, cogitar se está frio suficiente para usar aquelas toucas fofissímas que você comprou aqui e estreando seu coturno novo (que você achou a um preço super camarada em alguma loja).

Sozinha em casa em uma sexta-feira a noite com um friozinho gostoso, o que você costuma fazer? Se enrolar nas cobertas e assistir Friends? Yaaay! Foi o que eu fiz, deitei no sofá que tenho no quarto, peguei uma mantinha daquelas bem macias, e fiquei nesse casulo na frente da tela do computador.



Eu estava bem feliz e conformada com o frio até que o inesperado aconteceu. Antes de carregar um episódio precisei colocar uma senha (captcha) no site, e me aparece: winter is coming. Até aí tudo bem, até que é um pouquinho normal um site português “adivinhar” que o inverno estava pra começar. Depois de digitar fiquei pensando como seriam meus dias no inverno daqui... Eu não queria ficar em casa, no casulo, como estava naquela sexta-feira. Eu queria estar dentro dos bares (que são quentinhos por serem climatizados), bebendo a minha cerveja. Aquele pensamento chegou a me deixar um pouco triste, até que lembrei: “É uma das primeiras vezes que faço isso no intercâmbio, não há mal...”, fiquei alegre novamente e vi o episódio.

Na hora de digitar o captcha para o próximo episódio, aparece: “i’m so freezing”. Não podia ser! Digitei aquilo indignada e sentindo mais frio ainda... Meu quarto parecia ter se tornado uma parte da Antártida. Meu único arrependimento é não ter tirado nenhum print pra vocês verem que não estou de brincadeira. Logo que o episódio de Friends começou, já comecei a rir e meu casulo passou a ter uma temperatura agradável novamente. Fui dormir feliz embaixo de três cobertas e com uma leveza no coração por finalmente ter um dia normal no intercâmbio (acredite em mim, eles são raros).



Alguns dias depois, aqui estou eu: passando por dias de 30 graus novamente (Yaaay! – isso porque Braga não fica contente só com frio, chove todos os dias, vinte horas por dia, e as quatro horas que não chove são horas de estar dormindo...). Chego a casa um dia ao final da tarde depois da aula, coloco uma regata e um shorts para ficar a vontade, e sem muito que fazer resolvo assistir um episódio... “i need a cheeseburger”. Não. Não! Nãããão!!! O que o site estava fazendo? Porque eu tinha que ser premiada com essas frases? O grande problema é que depois de ler aquilo parece que você precisa mesmo de um cheeseburger, podia ser um do McDonalds, ou um X-Salada, hmm delicioso mesmo seria um X-Egg, ou melhor ainda... um X-Bacon! Eu até estava disposta a fritar hamburguers e fazer um duplo cheeseburger em casa. Infelizmente eu não tinha nenhum hamburger no congelador e nenhum jeito de eu comprar um cheeseburger ali naquela hora (preguiçosos entenderão que nem mesmo com uma fome dessas eu iria trocar de roupa, descer os três andares de escada do meu prédio e andar um quilometro até o McDonalds mais próximo da minha casa), só o que pude fazer era ficar emburrada (e com fome) vendo o episódio – e nem pipoca eu tinha pra estourar...

PS1: Sim, assim que eu tive a oportunidade de comer um cheeseburger, eu comi.
PS2: Não, não sou uma comedora compulsiva (eu acho).

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

É tudo culpa da oratória

Olhei-me no espelho e me senti tão orgulhosa. Estava preparada para a primeira vez que ia à tribuna na aula de oratória. Eu vestia a camisa pólo do colégio, a saia “pregada” que era peça obrigatória em momentos mais formais, e como era um dia frio somado à minha gripe, o moletom da escola. Nos pés, eu usava um sapato com um salto de 3 ou 4 centímetros. Para completar, resolvi usar um arco com um laço do lado direito da cabeça para segurar a minha franja.

Era a primeira vez que eu ia à tribuna, mas não era o meu discurso que eu ia defender. Iria fazer a leitura da ata da seção anterior, isso porque, naquela seção eu havia sido a secretária. Claro que eu estava com aquele friozinho na barriga por mais que fosse algo não tão importante para o meu desempenho na matéria. Quando cheguei ao auditório, as duas turmas convidadas também iam pouco a pouco ocupando os lugares das primeiras fileiras.

Inicialmente foi aquele blábláblá de oratória, presidente abrindo a seção e afins. E chegou a minha vez de ir ler a ata. Quero deixar claro que eram quase três páginas de Word (Times New Roman, 12, espaçamento 1,5), ou seja, um texto razoavelmente grande. E quero salientar que eu estava gripada. Então cheguei à tribuna com toda a honra, glória e coragem no peito.

O problema é que depois de dois parágrafos, eu senti aquela grande vontade de fungar o nariz, e assim ecoou um “sniiiff” nas caixas de som. Ao meio do parágrafo seguinte, comecei a sentir descer novamente “sniiifff”, no final dele, mais uma vez “sniiiifff”, e nos parágrafos seguintes, conforme mais nervosa eu ficava, parecia que descia mais rapidamente e a quantidade de “sniffff” no microfone por parágrafos estava começando a ficar demais.



Percebi que a gravidade da situação aumentava cada vez mais, e eu não podia simplesmente limpar meu nariz com a mão ali na frente de todo mundo. Não, eu não podia fazer isso, mas achei melhor ao meio da segunda folha sair do microfone, ficar de costas para o público e chorar. Sim! Chorei! Se já estava um fracasso eu fungando ali em alto e bom som no microfone imagina ficar de costas na frente de todo mundo e começar a chorar...

Claro que depois disso fui convidada, pela professora, a me sentar e como cereja do bolo tive que escutar ao final da seção, quando a professora faz os comentários e recomendações: “É... e alguém tinha que ter trazido um lencinho pra tribuna...”

Depois daquilo eu disse “that’s it, i’m going to be good at this shit”. Quando chegou a vez de apresentar meu discurso, eu me dei muito bem, não cheguei perto da nota máxima, mas foi uma das melhores da sala. Desde então eu me tornei obsessiva em ter um bom desempenho nas aulas de português, e eu tentei (de verdade gente) me empenhar ao máximo. O que honestamente às vezes trazia bons resultados, mas muitas vezes não. Quando terminou o ensino médio e não tinha mais aulas de português para acabarem com toda a paciência e fios de cabelo que eu tinha, no meu primeiro semestre da faculdade eu tive uma matéria chamada “Comunicação Escrita” e claro que no segundo semestre me esperava a “Comunicação Oral”. Depois de mais um ano empurrando o português com a barriga (ta bom, nem foi tanto com a barriga assim porque acabei tendo boas notas), eis que chega a hora que eu digo “ufa, acabou, e to nem aí para o novo acordo ortográfico”.

Sim, quando chegou esse momento que para mim parecia tão abençoado, eu comecei a sentir falta de escrever redações e/ou textos criativos. E na época me pareceu uma boa solução escrever um livro, mas enquanto isso não acontece, eu vou me divertindo aqui no blog, e vocês vão precisar me aturar...

PS.: A ideia do livro nunca chegou a sair da minha cabeça e ir pro papel, e eu nem sei se vai sair. Afinal de contas, quando eu pensava no que podia escrever, a ideia era ridiculamente curta, e até agora, para o meu azar, não vi ninguém que ficasse satisfeito com um livro de uma página...

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Não Desistir

Um passo de cada vez, é o que dizem. Nunca tive a oportunidade de concordar tanto com essa frase. 18. 36. 35. 33. Essas foram as quilometragens diárias aproximadas que eu caminhei do dia 24 a 27 de Setembro. De longe, a coisa mais difícil que já fiz na vida.

Sai de casa com um objetivo, um sonho: chegar a catedral de Santiago de Compostela fazendo uma parte do caminho português. Quem já havia feito a caminhada me disse que não era necessário preparo físico, “o caminho te leva”.

No primeiro dia saímos de casa muito mais tarde do que queríamos e não foi possível alcançar o objetivo do dia, a partir daí, naquela noite, já sabíamos que os próximos dias ficariam cada vez mais puxados. Afinal de contas, eram 18km que deixamos de andar naquele dia e que seria dividido entre os três próximos. E infelizmente não é possível dizer “ah, 6km a mais em cada dia não é tanta coisa”, cada metro a mais já é demais. Seis quilômetros são aproximadamente uma hora e meia a mais caminhando. Sendo que nem sabíamos se iríamos enfrentar a subida de uma montanha ou a alegria de um caminho com altitude constante.



Foi no final do segundo dia que pensei pela primeira vez em desistir. Meus pés não agüentavam, os joelhos não suportavam mais o peso do corpo e da mochila, e minha mente estava fraca. Aquele dia surgiu as primeiras bolhas nos pés das quais eu teria que cuidar e tentar não pensar na dor. Quando a cidade que era nosso objetivo aquele dia não parecia que ia aparecer, eu sentei, respirei fundo. Chorei. Chegamos ao albergue, deitei na cama e achei que não conseguiria mais andar no dia seguinte, a não ser se fosse com destino a uma estação de trem.

No terceiro dia acordei com um pouco menos de dor do que havia ido dormir. Eu não queria desistir, eu não podia. Não podia dizer ao meu amigo, que aceitou fazer o caminho comigo, que eu não tinha mais forças. Eu tinha que ser mais forte que isso. Nesse dia paramos na farmácia e compramos o que já deveríamos possuir desde o início. O terceiro dia passou mais facilmente, minha mente já estava mais determinada e mais forte. Claro, chorei, mas a vontade de desistir já não era grande. Faltava somente mais um dia, e fui dormir sabendo que a catedral estava a 33km de nós.



No quarto dia, chegamos.

No meio de tanta dor, esqueci de mencionar quantas coisas bonitas eu vi. Por quantas vilas pequenininhas passamos com o chão de pedra e as casinhas feitas de pedra também. Por quantos vinhedos passamos, com o cheiro da uva atingindo nosso olfato, e, como ninguém é de pedra, sentindo o gosto espetacular daquelas uvas fresquinhas do pé. Passamos por cidades um pouco maiores com centros históricos incríveis. Sim, subimos montanhas, mas por causa disso conseguimos ficar mais próximos da natureza e ver lugares com belezas únicas. Esqueci de mencionar que o caminho era repleto por riachos super gracinhas que acalmavam a dor que eu sentia no pé ao colocar ele naquela água gelada. Que conhecemos um povo espanhol muito alegre e simpático. Antes de sair de casa eu li “não abaixe a cabeça durante o caminho”, e foi o que fiz, e por causa disso tive o prazer de visualizar e capturar cada detalhe dos lugares incríveis que passávamos.

E se eu saí de casa com um sonho, só tenho a dizer que voltei pra ela com muitos outros. Com muita vontade de lutar e realizá-los. E, com satisfação, sabendo: eu posso.



O caminho faz coisas com você... Ele te transforma, te faz perceber o quanto você pode agüentar, mostra que não é fácil ganhar uma batalha e muito menos uma guerra. Acima de tudo, te ensina o que é essencial na vida.