segunda-feira, 20 de outubro de 2014

É tudo culpa da oratória

Olhei-me no espelho e me senti tão orgulhosa. Estava preparada para a primeira vez que ia à tribuna na aula de oratória. Eu vestia a camisa pólo do colégio, a saia “pregada” que era peça obrigatória em momentos mais formais, e como era um dia frio somado à minha gripe, o moletom da escola. Nos pés, eu usava um sapato com um salto de 3 ou 4 centímetros. Para completar, resolvi usar um arco com um laço do lado direito da cabeça para segurar a minha franja.

Era a primeira vez que eu ia à tribuna, mas não era o meu discurso que eu ia defender. Iria fazer a leitura da ata da seção anterior, isso porque, naquela seção eu havia sido a secretária. Claro que eu estava com aquele friozinho na barriga por mais que fosse algo não tão importante para o meu desempenho na matéria. Quando cheguei ao auditório, as duas turmas convidadas também iam pouco a pouco ocupando os lugares das primeiras fileiras.

Inicialmente foi aquele blábláblá de oratória, presidente abrindo a seção e afins. E chegou a minha vez de ir ler a ata. Quero deixar claro que eram quase três páginas de Word (Times New Roman, 12, espaçamento 1,5), ou seja, um texto razoavelmente grande. E quero salientar que eu estava gripada. Então cheguei à tribuna com toda a honra, glória e coragem no peito.

O problema é que depois de dois parágrafos, eu senti aquela grande vontade de fungar o nariz, e assim ecoou um “sniiiff” nas caixas de som. Ao meio do parágrafo seguinte, comecei a sentir descer novamente “sniiifff”, no final dele, mais uma vez “sniiiifff”, e nos parágrafos seguintes, conforme mais nervosa eu ficava, parecia que descia mais rapidamente e a quantidade de “sniffff” no microfone por parágrafos estava começando a ficar demais.



Percebi que a gravidade da situação aumentava cada vez mais, e eu não podia simplesmente limpar meu nariz com a mão ali na frente de todo mundo. Não, eu não podia fazer isso, mas achei melhor ao meio da segunda folha sair do microfone, ficar de costas para o público e chorar. Sim! Chorei! Se já estava um fracasso eu fungando ali em alto e bom som no microfone imagina ficar de costas na frente de todo mundo e começar a chorar...

Claro que depois disso fui convidada, pela professora, a me sentar e como cereja do bolo tive que escutar ao final da seção, quando a professora faz os comentários e recomendações: “É... e alguém tinha que ter trazido um lencinho pra tribuna...”

Depois daquilo eu disse “that’s it, i’m going to be good at this shit”. Quando chegou a vez de apresentar meu discurso, eu me dei muito bem, não cheguei perto da nota máxima, mas foi uma das melhores da sala. Desde então eu me tornei obsessiva em ter um bom desempenho nas aulas de português, e eu tentei (de verdade gente) me empenhar ao máximo. O que honestamente às vezes trazia bons resultados, mas muitas vezes não. Quando terminou o ensino médio e não tinha mais aulas de português para acabarem com toda a paciência e fios de cabelo que eu tinha, no meu primeiro semestre da faculdade eu tive uma matéria chamada “Comunicação Escrita” e claro que no segundo semestre me esperava a “Comunicação Oral”. Depois de mais um ano empurrando o português com a barriga (ta bom, nem foi tanto com a barriga assim porque acabei tendo boas notas), eis que chega a hora que eu digo “ufa, acabou, e to nem aí para o novo acordo ortográfico”.

Sim, quando chegou esse momento que para mim parecia tão abençoado, eu comecei a sentir falta de escrever redações e/ou textos criativos. E na época me pareceu uma boa solução escrever um livro, mas enquanto isso não acontece, eu vou me divertindo aqui no blog, e vocês vão precisar me aturar...

PS.: A ideia do livro nunca chegou a sair da minha cabeça e ir pro papel, e eu nem sei se vai sair. Afinal de contas, quando eu pensava no que podia escrever, a ideia era ridiculamente curta, e até agora, para o meu azar, não vi ninguém que ficasse satisfeito com um livro de uma página...

Um comentário:

  1. Eu ri e fiquei triste com a sua história. Eu sempre tive problemas para falar na frente de muita gente. Fico nervosa, gaguejo, esqueço o que vou dizer, não falo coisa com coisa. Melhorei um pouco com a faculdade de comunicação, defesas de campanha, mas segui meio pé atrás e sempre prefiro evitar. O que ta me ajudando agora com isso são os vídeos pro blog. Eu posso não estar falando na frente de um monte de gente na hora que gravo, mas me assistir falando me ajudou a controlar alguns tiques que tenho. E mesmo em vídeo, quando alguém conhecido entra no meu blog, assiste um vídeo e depois vem me falar, ainda fico com um pouco de vergonha. Mas acho que to melhorando. ACHO.

    Já tive vários pensamento sobre um livro também, mas nunca cheguei a sentar para começar a escrever algo. Então vou te fazendo companhia de blog até que uma de nós de um passo a frente ;)

    Beijo
    http://resenhandosonhos.com

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